- Isso tudo é mesmo verdade? –
Nicolas perguntou estatelado.
- Sim, eu não inventaria isso. –
Respondi com sinceridade. – E se há algo de grandioso que aprendi com Estela
foi que: Falar a verdade dói, mas não dói mais que a culpa que trás uma mentira.
- Nossa então quer dizer que
minha mãe era uma assassina e meu pai um mafioso. – Concluiu. – Eu deveria ter
sido criado em uma família totalmente desestruturada, mas não. Eles abriram mão
de tudo por mim e Helena. Por isso que a mamãe dizia que o papai investia. Ele
se desfez de tudo que tinha investiu. Tudo faz sentido!
- Será que você não pode focar no
ponto de vista que Estela e eu somos um casal separado pelo tempo e unido pelo
destino? – Eu o trouxe a realidade.
- Desculpa Marcio. – Nick se
redimiu. – Mas é que é difícil saber de todo o passado sujo dos meus pais e
ainda ter que digerir que minha aos 74 anos está apaixonada.
- É justamente neste ponto que eu
queria chegar. – Confessei. – Eu sempre fui apaixonado por Estela, mas não
sabia que ela havia casado com Romano e formado uma família, então a 20 e
poucos anos eu mandei por um fim na vida dele.
- Você o que? – Nicolas perguntou
indignado. – Eu devia lhe denunciar...
- Mas você sabe que se me
denunciar, em meu depoimento eu terei que falar meus motivos e dizer que sua
mãe vivia do crime e ela iria para o xilindró comigo. – Completei.
- Não foi isso o que eu pensei. –
Ele contrapôs – Mas vendo por este lado...
- O fato é que eu ainda amo a sua
mãe e sei que sua mãe ainda me ama, no entanto quando eu confessei tudo ela
disse que eu havia destruído uma família. – Fui mais claro.
- E destruiu mesmo! – Confirmou.
- Sua mãe foi egoísta. Pense em
quantas vítimas eles fizeram, quantas famílias eles destruíram. Pense no quanto
eles impediram num avanço de país que hoje é recordista em homicídios, em
acidentes de carro, em tráfico de drogas e armas. Será que o meu erro foi tão
grave assim? Será que só eu errei? Ou será que só eu não mereço perdão, uma
segunda chance? – Expus a realidade para os seus olhos cegos diante dos fatos.
- Eu não sei o que fazer. Essa
decisão não depende de mim. – Desabou.
- Depende sim. Se você conversar
com sua mãe e enxergar que você não veria problemas em nós termos um
relacionamento a esta altura do campeonato e com os nossos erros, Estela me
dará uma chance. Eu tenho certeza. – Minha voz era serena e convincente.
- E eu? Você não olha pro meu lado? Hoje é meu
aniversário! Era para ser um dia feliz, mas eu descobri o passado dos meus
pais. Um passado sujo, e ainda por cima minha mãe de 74 anos está apaixonada
por o pai de um dos meus clientes. Isso me faz pensar que o mundo é pequeno,
que o céu é pequeno, que o tempo é pequeno. – Desabafou.
- O mundo sempre será grande, o
céu sempre será grande e o tempo sempre será grande para as mentes pequenas. –
Corrigi-o. – Pense grande, pense no bem, pense no que será melhor, acabar com o
resto de vida que ainda resta a mim e sua mãe ou nos dar um fim de existência
tranqüilo e desejável.
- Eu vou conversar com a minha
mãe, mas e a minha irmã? – Seu tom era agonizante.
- Para de pensar em problemas,
sua irmã não precisa saber, esse vai ser o nosso segredo. – Solucionei.
- Então tá. – Concordou.
Ele se levantou e caminhou para o
salão principal. Eu não sabia se ele iria falar com a mãe, se iria falar com os
envidados ou se iria ignorar tudo o que estava acontecendo, mas de uma coisa eu
sabia muito bem: Eu iria ficar com Estela.
Levantei do banco e fui ao salão
também, mas ao invés de vigiar Nicolas ou conversar um pouco, eu fui à saída.
Olhei para o transito rápido lá fora, os carros passando, o tempo passando e
cada minuto passado, era um minuto a menos com Estela.
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