Marcio havia ficado dez dias na
UTI em estado grave. Neste período os médicos não autorizaram nenhuma visita
por que qualquer variação no ar poderia causar uma parada cardiorrespiratória.
Ao fim desse período o médico veio nos dar um laudo oficial.
- Quem é o senhor Theodoro
Martins Rangel? – Perguntou o médico.
- Sou eu. – Théo apresentou-se.
- Nós poderíamos conversar sobre
o estado do seu pai? - Perguntou.
- Claro. – Théo respondeu e o
médico fez menção de ir para outro lugar, mas percebeu que Theodoro não se
movia.
- Estela irá comigo. – Anunciou.
- Ok, se você insiste... – O
doutor cedeu.
Nós o acompanhamos até o que
parecia ser o consultório do doutor. Lá havia uma estante colônia coberta de
livros de medicina e enciclopédias. Um birô de trabalho onde havia um notebook
e algumas pastas e depois de duas cadeiras onde os pacientes sentam havia uma
maca para avaliações.
- Sentem-se, por favor. – Ele
pediu.
- Então doutor Feitosa como meu
pai está? – Theodoro antecipou-se ansioso.
- Ao longo desses dez dias em que
o paciente Marcio Rangel Pereira esteve internado nós, a equipe do hospital,
realizamos uma série de exames. Os resultados desses exames confirmaram um
tumor na região dos pulmões, que causou uma dificuldade ao paciente de inspirar
o oxigênio. Receio que na próxima semana ele será encaminhado para a sala
amarela e quando receber alta passará por longas sessões de quimioterapia. – O
médico apresentou-nos o laudo.
- Mas, ele ta com câncer? –
Pergunto Theodoro assustado.
- Ainda não. O tumor ao qual ele
possui não está no estado cancerígeno, no entanto se ele não iniciar logo o
tratamento não tardará a alcançar este estágio. – O médico respondeu. – Daqui a
dez minutos ele poderá receber uma visita, mas somente uma pessoa.
- Vá você primeiro Théo, você
está muito aflito. – Decidi.
- Eu prefiro que você vá. – Théo
manifestou-se. – Quando será a próxima visita Dr. Feitosa?
- Quando ele for encaminhado para
a Sala Amarela, o que via demorar no mínimo uma semana.
- Pode ir, Dona Estela. –
Theodoro concluiu.
- Então, quem vai comigo é a
senhora? – O médico perguntou.
- Sim. – Respondi sem hesitar.
Nós fomos para a Unidade de
Terapia Intensiva que ocupava o quinto andar. Nós estávamos no primeiro. Ao
chegar à unidade fui submetida a todo um processo de higienização das mãos, da
roupa e do rosto, que usar uma máscara.
Uma enfermeira me conduziu a maca
onde Márcio estava internado e com auxilio de equipamentos para respirar. Ao
vê-lo desacordado eu não pude me conter e desatei a chorar e soluçar.
Aproximei-me do corpo dele e o envolvi, olhei para seu rosto, agora pálido,
pálpebras seladas e expressão vazia.
- Marcio, meu amor. – Comecei a
falar e mesmo sabendo que ele não sentia minha presença perguntei: - Você
consegue me ouvir?
Não houve resposta e eu não
resisti ao silencio.
- Por favor, acorde! Vamos
conversar, a gente precisa ser feliz.
– Implorei.
De repente a maquina que
calculava seus batimentos começou a apitar rapidamente como um alerta. Ti, Ti
Ti, Ti, Ti, Ti. Um médico chegou e examinou o corpo enquanto uma enfermeira me
retirava da sala. Senti um vazio no coração.
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