Eu sou Estela Magneto, tenho 70 anos. Ou 74. Não lembro muito bem. Sou um fardo para minha família, é por isso que estou em um asilo. Disseram-me que era uma “casa de repouso” ou um “centro geriátrico”, mas no meu tempo o lugar onde as famílias internavam seus parentes velhos e imprestáveis eram asilos. Não entendo essa nova sociedade.
– Bom dia, Sra. Magneto hora de acordar. – Uma das enfermeiras insuportavelmente simpáticas acordou-me com sua voz extrema e forçadamente aveludada.
– Bom dia... – fiz uma pausa para tentar lembrar seu nome, não conseguia ver seu crachá por que havia acabado de acordar e minha visão do ambiente mais parecia um borrão. – qual é o seu nome mesmo?
– Rose. – Ela me respondeu com êxito.
– Bom dia Rose. – Concluí minha frase.
– A senhora prefere tomar seu café-da-manhã aqui ou no refeitório? – Perguntou como fazia todas as manhãs.
– Hoje eu quero ir ao refeitório, - respondi e depois acrescentei – se não se importar.
– Claro que não me importo. – Ela disse e me ajudou a ir até a cadeira de rodas.
– Deixe-me ir com meu andador. – Pedi.
– Depois a senhora passeia um pouco, - ela diz – agora é melhor poupar esforços.
– Essa cadeira faz eu me sentir uma velha impossibilitada. – Resmungo.
– A senhora ainda tem muito chão pela frente. – A Rose rebate e abafa uma risada, como quem ri da vida. E ela estava mesmo rindo da vida, só que da minha vida.
– Eu só queria poder andar todo esse chão com meus próprios pés. – Ninguém me segura.
– Vamos tomar café. – Ela disse em ato de redenção.
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