Chegamos ao refeitório. As outras velhas começaram a manhã a todo vapor, falar da vida, ou melhor, do passado das companheiras era seu passatempo predileto, eu não me encaixava. Alguns velhos falavam de coisas como: política e economia, os outros eram fechados. Eu sentava, geralmente, sozinha em uma mesa, mas hoje me colocaram na mesma mesa de um velho que a pouco havia chegado e de algumas velhas que ouviam atentamente suas histórias mirabolantes do tempo em que fora policial.
– Hoje, o senhor vai ter mais uma ouvinte senhor Pierport. – Rose anunciou-me.
– É sempre bom poder compartilhar minhas histórias com mais alguém. – Ele disse e sorriu.
– Que estória você contará hoje Max? – Uma das velhas, Gertrudes, perguntou.
– Como eu já havia comentado minha especialidade no tempo de policial era estelionatos. Desvendar os golpes, e prender os bandidos, mas ocasionalmente eu caçava assassinos de aluguel. Eles eram homens muito discretos e levavam duas vidas. – Ele iniciou, mas eu interrompi.
– Homens? E as assassinas de aluguel? – Perguntei.
– Não existiram. Elas surgiram nesses tempos modernos. – Ele ria.
– Você está mentindo. – Contrapus.
– Não, não estou. – Ele alegou.
– Você nunca foi policial coisa nenhuma, você está inventando estas histórias, policiais são homens discretos, não como você vive se gabando de suas supostas aventuras. – Explodi.
– Você está delirando. – Seu rosto mostrava que ele estava se excedendo.
– NÃO ESTOU. NÃO ESTOU. NÃO ESTOU. VOCÊ é um MENTIROSO. – Gritei e derrubei minha xícara.
Rose veio em minha direção e destravou minha cadeira de rodas. Tirou-me da mesa e me conduziu para o quarto.
– Talvez não tenha sido uma boa idéia lhe colocar na mesa do senhor Pierport. – Rose disse.
- Ele é um mentiroso, e aquelas velhas acreditam em suas mentiras. Isso é um absurdo. – Desabafei.
– Olha, Sra. Magneto. As vezes nós lemos muito, sonhamos muito e criamos fantasias que parecem ser muito reais, como se já tivéssemos vivido. – Ela explicou. – Isso pode ser o que está acontecendo com o Sr. Pierport.
– Você acredita em mim? – Perguntei.
– Eu sou imparcial. Eu creio na verdade. - Respondeu.
– Não seja hipócrita. Você acredita nele, afinal de contas, ele foi “policial” e eu não. – Eu argumentei quase chorando.
– O que a senhora foi durante sua juventude? – Ela perguntou.
Fiquei calada. Eu tenho 70 anos. Ou 74. Não lembro muito bem. Nunca me abri com ninguém sobre meu passado, sobre meu primeiro e único amor. Nunca contei que fui uma assassina de aluguel e que me apaixonei por uma de minhas vítimas.
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